SAÚDE
por Marta Madalon
24.10.2023
Há 3 anos recebi o diagnóstico de artrite reumatoide (AR), uma doença reumática autoimune e de TAG, transtorno de ansiedade generalizada. Até então, eu não tinha nenhum problema de saúde relevante, me considerava "saudável" por ter uma dieta equilibrada e praticar yoga.
Os Desafios do Confinamento: Uma Reflexão sobre Medo e Resiliência em Meio à Pandemia de COVID19
Para seguir neste relato, volto ao passado recente, mais precisamente em março de 2020, quando foi decretada a pandemia de covid19 no Brasil. Hoje consigo falar abertamente que entrei em pânico, fiquei com muito medo de perder meu trabalho, renda, o pouco que resta da minha família, de morrer, deixar minha filha.
Muitas coisas ruins passaram pela cabeça durante o confinamento que enfrentei sozinha com a minha filhota, na época com apenas 7 anos, morando ao lado de uma casa onde viviam 4 cães confinados num espaço minúsculo, latindo o dia inteiro sem comando de voz dos seus humanos, enquanto tentávamos nos entender com o ensino e o trabalho no modo remoto. Eu tinha insônia com frequência, taquicardia e no 4º mês da pandemia 'buguei’.
Quero registrar que sou mãe solo, sobrecarregada por multitarefas, exausta. Tentei segurar a onda, afinal sempre fui considerada a “forte”, a “guerreira”, mas não dei conta.
Superando Adversidades: Da Crise de Estresse ao Diagnóstico de AR em Meio à Pandemia
Tive um surto de stress, uma espécie de "curto circuito" que, posteriormente, o psiquiatra interpretou como uma contração extrema nos nervos. No dia seguinte ao burnout, amanheci com os primeiros sintomas de AR nos polegares das mãos e no pé esquerdo, uma dor intensa acompanhada de outros sintomas que evoluíram muito rápido, e de maneira bem agressiva, afetando as demais articulações do corpo.
Foram 9 meses terríveis, com muita rigidez e dores torturantes no corpo. Perdi peso por causa da anemia associada à doença autoimune, sentia uma fadiga incapacitante, faltava força para levantar o braço e vestir uma blusa, lavar o cabelo, não conseguia abrir a tampa de uma lata ou usar a faca para cortar um legume. Mesmo andando com dificuldade, longe da família e sem uma rede de apoio, tirei forças não sei de onde para buscar ajuda no meio do caos e inseguranças da pandemia, encarei uma luta diária para sair da cama todos os dias, continuar cuidando da minha filha e conseguir cuidar de mim.
Determinação e Autocuidado em Meio à Adversidade
Apesar das limitações, continuei trabalhando em home office, praticando yoga e mergulhei em estudos para entender o que eu poderia fazer para mudar o prognóstico, pois AR não tem cura, é doença inflamatória crônica e sistêmica que afeta primeiro as articulações, mas pode atingir tendões, músculos, pulmão, olhos, coração, além de causar deformidades em mãos e pés. É bem grave, se não for tratada e controlada. O meu diagnóstico de AR foi confirmado por alteração significativa no anticorpo-CCP. Além da dor física, tinha a dor emocional de tudo o que estávamos passando em 2020, somada ao que já enfrentei ao longo da minha vida e passei por cima sem me permitir esmorecer.
Fui atendida por médicos bons e alguns nem tanto. Mantive os bons e montei uma equipe multidisciplinar, assumindo o protagonismo nos cuidados da minha saúde, determinada a mudar o rumo dessa história.
Explorando Novas Fronteiras: Cannabis Medicinal e Seu Papel na Jornada Contra a AR
Iniciei o protocolo de tratamento da AR com dois imunossupressores de uso contínuo, encontrei energia para fazer cursos online e descobri o potencial da cannabis medicinal no tratamento da dor crônica e no controle da ansiedade, entre tantos outros benefícios que a ciência já pode comprovar, graças ao pioneirismo do Dr. Raphael Mechoulam, engenheiro químico búlgaro que trabalhou num hospital em Israel, sintetizou o CBD, o THC e descobriu o sistema endocanabinoide, responsável por modular os demais sistemas do nosso corpo como o maestro que rege uma orquestra.
O legado científico foi trazido ao Brasil através do Dr. Elisaldo Carlini, médico que, juntamente com o Padre Ticão, ativista canábico que facilitou o acesso de famílias de baixa renda ao óleo de cannabis na zona leste de São Paulo - ambos falecidos durante a pandemia de covid19 -, disseminaram o conhecimento produzido pelo Dr. Mechoulam, educando e formando uma rede de médicos prescritores que estão na linha de frente dos tratamentos e pesquisas por aqui, atuantes também no curso livre, online e gratuito de cannabis medicinal da Universidade Federal de São Paulo.
Tratamento Convencional, Mudanças na Alimentação e Suplementação
Meu tratamento convencional de AR inclui o temido Metotrexato e o imunobiológico Humira que foram prescritos no sexto mês de sintomas e diagnóstico confirmado. Vale ressaltar que o imunobiológico, por ser de alto custo, mas de fornecimento obrigatório pelo SUS e pelos convênios particulares e empresariais, nunca é o medicamento de entrada no controle da artrite reumatoide, porém, no meu caso, associado ao Metotrexato logo no início do tratamento, fez toda a diferença para interromper rapidamente a evolução do quadro e modificar o curso da doença.
Demorou 3 meses para os tratamentos começarem a fazer efeito, mas não desisti. Segui orientações de nutricionistas e incorporei também algumas mudanças importantes na alimentação, tirando laticínios, açúcar e álcool que são altamente inflamatórios para o organismo. Investi em suplementação de cúrcuma longa, que contém propriedades anti inflamatórias naturais e vitamina-D, responsável pela modulação do nosso sistema imunológico e por vários processos metabólicos, o que ajudou muito na melhora da fadiga.
"Continuei praticando yoga, que me dá flexibilidade, fortalecimento físico, psíquico, emocional e mais equilíbrio para lidar com as situações do dia a dia"
Marta Madalon
Yoga, Cannabis Medicinal e a Jornada para a Remissão da AR: Um Caso de Sucesso
Continuei praticando yoga, que me dá flexibilidade, fortalecimento físico, psíquico, emocional e mais equilíbrio para lidar com as situações do dia a dia. Graças ao óleo de cannabis medicinal que utilizo há 2 anos, com supervisão médica, estou sem tomar corticoides e anti-inflamatórios que me dariam inúmeros efeitos colaterais a médio/longo prazo e desmamei o antidepressivo, o que por si só já é motivo para comemorar!
Os exames periódicos mostram que estou sem atividade inflamatória, os sintomas estão bem controlados, o que significa remissão da doença. Fiquei com uma pequena sequela no polegar da mão esquerda – erosão óssea e subluxação metacarpofalangiana - o que não é nada, pensando nas consequências que poderiam ocorrer caso não tivesse encontrado médicos que me acolhessem com ousadia para quebrar padrões no exercício da profissão e me apoiassem para tomar decisões assertivas sobre a condução do meu tratamento. Virei um case de sucesso!
Terapia Canabinoide e Autocuidado: Gerenciando o Stress e Desvendando os Gatilhos da AR
Com o uso da terapia canabinoide, que é coadjuvante ao tratamento convencional da AR, estou conseguindo gerenciar o stress crônico e lido melhor com as crises de ansiedade, que diminuíram bastante. Compreendi que agora os cuidados e a atenção comigo mesma serão permanentes, em todos os níveis, até porque a imunossupressão me deixa vulnerável a contrair todo tipo de doença infecto-contagiosa, e preciso fazer escolhas diárias com base em riscos x benefícios para ter qualidade de vida.
Todos os médicos que me acompanham concordam que o stress foi o gatilho para ativação da AR, que poderia nunca ter se manifestado. O stress inflama e um organismo constantemente inflamado pode ativar genes adormecidos no nosso DNA e resultar em diversas doenças. A medicina integrativa nos esclarece que 40% das causas das doenças são genéticas, mas 60% são epigenéticas, ou seja, influenciadas pelo ambiente e estilo de vida. Portanto, não negligenciem suas emoções, e para nós, mulheres, digo que não precisamos ser a Mulher Maravilha do mundo real e dar conta de tudo o tempo todo, saibam dar limites para os outros e para si mesmas, pedir ajuda quando for necessário!
E para tod@s, meu alerta é para que cuidem da saúde física, mental, emocional e espiritual.
Remissão e Bem-Estar: Minha Jornada com AR e Terapia Canabinoide
Estou reaprendendo a viver por conta da AR, um dia de cada vez, com muito mais amor, carinho, respeito e principalmente calma para conseguir enxergar o que e quem priorizar; onde colocar mais energia para fazer a roda girar, dando um passo após o outro.
Se conhecerem alguém que esteja passando por algo parecido e precisando de ajuda, compartilhem minha jornada como paciente reumática autoimune em uso de terapia canabinoide para que se inspirem e, assim como eu, também sejam protagonistas da própria saúde e alcancem a tão sonhada remissão!
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Marta Madalon é jornalista, mãe, praticante e instrutora de yoga, autora de livros ainda não publicados
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Produção: INFO HEMP TEAM
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